domingo, 23 de julio de 2017

Pedrogão Grande: Apenas um mês depois; un mes despues; un mois après

Bom dia, buenos días, bonjour

Apenas pasado un mes desde lo ocurrido en Pedrogão ayer se señalaba en los medios portugueses la existencia de una víctima más con lo que va por 65 el siniestro recuento.

Llevaba unos días pensando en volver a escribir sobre el asunto, pero hoy he leído la carta de una madre de las víctimas que expresa mucho mejor que yo el sentimiento de rabia e impotencia de los familiares de las víctimas. Os la incluyo al final.


Yo mientras tanto he visitado Portugal, concretamente el muy turístico Algarve, comprobando qué lejos quedan las zonas rurales del Portugal Vacío de sus zonas urbanas de la costa. Quizá incluso más que en España.
En mi último día de vacaciones me dediqué a buscar prensa que tratara con cierta profundidad los recientes sucesos. En realidad no encontré mucho pero he podido leer los semanarios Avante (del Partido Comunista Portugués), Sol y el Diario Público. Todos trataban tanto los asuntos de la desastrosa política forestal como el estado del medio rural. En Sol se hablaba también de como se habían elegido los cargos en Protección Civil y en la Autoridad Forestal... Ya han comenzado las dimisiones.


Otros diarios estaban más ocupados en dar la noticia del robo en el mayor arsenal del ejército portugués que en esos momentos estaba sin vigilancia alguna...

Mientras estuve en Portugal también puede comprobar la efectividad de la aplicación para Smartphones portuguesa "Fogos.pt" ¡Lástima que a las víctimas de Pedrogão no les sirviera para mucho!

Otros casos relacionados también llamaron mi atención en España:
- El anuncio de los drones apaga-fuegos en IBERFORESTA, penúltima incorporación al operativo de lucha contra incendios, de utilidad más que dudosa en mi opinión... salvo para ocultar las deficiencias en materia de políticas rurales del  Ministerio de Agricultura y del Estado.
- Un encuentro con Sergio del Molino, autor del libro la España Vacía al que dedicaré un artículo en breve (espero)
- La publicación del informe La Sostenibilidad Demográfica de la España Vacía donde se citan los 4.000 municipios de España con riesgo de despoblación irreversible, entre ellos 50 en Extremadura, entre ellos el pueblo de mi infancia...

En cuanto a los fuegos y según mis cálculos (la Administración no da información día a día salvo la que se filtra a los periódicos) ya hemos superado en Extremadura las 3.000 Ha (a mediados de Julio). Quizá ya hayamos superado la media de los últimos 20 años como era de esperar y todavía falta  mucho verano. Los medios siguen a lo suyo: Mucha cobertura en el incendio de Arroyo de San Serván (cerca de la capital, Mérida) y nulo o escaso en los casos de Calzadilla y Alcántara y más siendo este último el que quizá haya quemado más superficie y de mayor valor en lo que va de año.

También mucha búsqueda de terroristas-incendiarios. Al final parece que el culpable del incendio más mediático en lo que va de año en España, el del Parque Nacional de Doñana, fue una empresa dedicada a la producción de carbón vegetal.

Pero volvamos a Portugal. Recientemente se ha constituido la "Associação de familiares de vítimas do incêndio de Pedrógão Grande" que ya cuenta con página en Facebook.

Os dejo con la carta de Nádia Piazza publicada en el Diario portugués Público. Podría traducirlo pero no lo voy a hacer, quizá en una próxima ocasión...

Saludos, Saudaçoes, Salut

O silêncio do fogo na voz da dor...

Carta de uma mãe que perdeu o filho em Pedrógão Grande.
 
Estamos tão cansados, mas não podemos estar. Os mortos não se calam e não nos deixam cansar. Gritam por Justiça! Exigem Mudança!

A Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, o grande, brutal e devastador incêndio que lavrou do dia 17 a 24 de Junho de 2017, nos concelhos de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pêra, é um movimento cívico que partiu dos familiares e amigos das vítimas mortais desta tragédia. Uma associação cujo mote é apurar responsabilidades e ajudar a construir um futuro em que tal tragédia e crueldade não volte a acontecer!

Esta é a descrição do que pretendemos ser, com a ajuda de todos e a lembrança de todos aqueles que partiram. Porque hoje somos uma comunidade traumatizada. Uma comunidade sujeita a uma tal brutalidade que não se nos apaga da memória... O cheiro a terra ardida é algo que nos envolve, que nos macilenta e que se entranhou em cada um de nós.

A perda de dezenas de vidas e de forma tão trágica que roça a loucura deixou uma sociedade e todo o seu contexto à volta num luto imposto. A vida acabou ali, naquela estrada para muitas pessoas. Inocentes. E acabou também parte de uma vida para os que ficaram. Os que ficámos, ficámos mais pobres, mais sós, apenas com o alento das memórias, mas com a revolta de toda esta situação. São filhos sem pais. São pais sem filhos... são casas sem gente, é gente sem gente, não é natural!

Olho à volta e as pessoas não se riem, choram sozinhas, acanhadas, não se olham nos olhos, com vergonha pela sua impotência, com medo; o cenário é deprimente e não nos ajuda a superar com dignidade a tragédia. O Inverno não tarda e com ele as ruas despidas de vida. Despidas de ainda mais vida.

Há rancor, ressentimento com o território e com as entidades públicas. O Estado falhou. A Nação não existiu.

Mas não falhou apenas nesta tragédia. O Estado vem falhando ao longo de décadas. O Estado padece de uma cegueira crónica, está enfermo de um tal sentimento de negação de si próprio. Nega o seu estado de país rural, um país orgulhosamente rural e por isso mesmo rico.

Enquanto Estado é um conceito frio, masculinizado, distante, de um ente que impõe tributos e leis aos seus súbditos, um amontoado de entidades supostamente hierarquizadas, com dirigentes supostamente competentes, e que supostamente deveriam cumprir e fazer cumprir um conjunto de leis e regras que se vão aprovando (ou não!) conforme as vontades políticas da estação. Assim se vai governando Portugal. Sem pactos de regime e visão a longo prazo. Vão-se puxando o tapete uns aos outros, não se apercebendo que, por fim, só restam cacos, dor e tristeza para governar.

Nação, por sua vez, é um conceito acolhedor, integrador, feminino, belo, quase maternal, que agrega o seu Povo e o seu Território. É o que dá sentido à reunião das pessoas num determinado território a que chamamos “a nossa terrinha”, “o nosso cantinho a beira-mar plantado”, a proa desta “jangada de pedra”. Portugal.

O Estado falhou nesta tragédia levando consigo o sentimento de pertença de Nação que tínhamos. O Estado não protegeu a sua Nação. Não assegurou o seu Território e com ele o seu Povo...

Fomos vítimas desta ausência insuportável de Estado. Ontem e hoje. Mas não amanhã. Porque já chega de incêndios que ceifam vidas. Incêndios como os de 2003, 2005 e Junho de 2017, e que contabilizam, até a data, 100 vítimas mortais em solo português, não podem voltar a acontecer. É hora de todos dizermos “Basta!”. Este Estado que não quer ver secou uma parte importante da sua Nação, aquela que moveu este país por séculos, o Interior.

A primeira muralha e frente de defesa do País no passado contra as invasões estrangeiras, o celeiro do País em tempo de vacas magras, o emissor de soldados nas guerras ultramarinas, o mercado de mão-de-obra barata em tempos de construção europeia... Quando o Interior e os seus recursos já não eram precisos, substituídos pela oferta de bens e serviços mais baratos, o Povo e o Território do Interior foram abandonados À sua sorte. Emigrem! E assim o fizeram, abandonados à sua sorte.

Não houve solidariedade em tempos de vacas gordas, não houve estratégia para o Território quando os dinheiros dos Fundos Estruturais Europeus chegavam a rodos. Foram anos de esquecimento, de esvaziamento progressivo e consistente das instituições regionais e locais, depois seguiram-se as empresas e, por fim, as pessoas. Sobreviver é preciso.

Foram sucessivas décadas de descaso com o Interior, de negligência com o Território, com a Floresta e a Agricultura. Tendo como consequência a emigração das pessoas em idade ativa, restando uma população envelhecida e empobrecida a exigir cuidados redobrados do pouco Estado que restou e que nos foi esventrado e sobretudo das autarquias locais e misericórdias.

Parecia propositado... o Interior tornou-se terra de ninguém, envergonhado de o ser, abandonado e, assim, por fim, vergado.

Deveríamos dar graças por nos termos tornado a maior região eucaliptizada da Europa... Fomos “agraciados” pela falta de oportunidade! O Território estava a saldos e ninguém quis saber.

O Interior tornou-se um canteiro de ervas daninhas, sem jardineiros — as suas gentes. Um barril de pólvora em que se soma a indústria do fogo institucionalizada e um qualquer ano eleitoral. Os ingredientes ideais para a tempestade perfeita.

A tragédia de 17 a 24 de junho de 2017 estava mais que anunciada. Foi apenas uma questão de tempo... e o tempo não pára! E com ele foram muitas vidas abreviadas. Cedo demais... Cedo demais!

Por ti, meu filho...

Nádia Piazza, mãe de uma criança de cinco anos que morreu a 17 de Junho de 2017 em Pedrógão Grande